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Do sertão ao urbano: entenda como o armamento moldou a história do Brasil

30 JUN 2025

A história do armamento no Brasil é, ao mesmo tempo, uma história de Estado e de sociedade. Desde os primeiros tempos da colonização, o uso de armas esteve diretamente ligado à formação do território, ao exercício do poder local e à defesa individual diante da ausência de uma estrutura estatal consolidada.

O armamento civil, longe de ser exceção, foi regra durante boa parte da história brasileira — moldando comportamentos, políticas e relações sociais.

Do período colonial à arma como instrumento de poder

Durante a colonização portuguesa, o armamento teve papel decisivo na expansão territorial. Os bandeirantes armavam-se para explorar o interior e subjugar populações indígenas, enquanto senhores de engenho e capitães do mato utilizavam armas para manter a ordem nas fazendas escravistas. A falta de presença efetiva do Estado nas regiões mais remotas fez com que a autodefesa se tornasse uma prática aceita e, muitas vezes, incentivada.

Armas como bacamartes e facas de ponta eram comuns no cotidiano do sertão. Não era incomum que disputas por terras, dívidas ou questões políticas fossem resolvidas por meios violentos cenário que se estendeu até as chamadas “eleições do cacete” no século XIX, quando confrontos físicos e armados decidiam o rumo da política local.

Império: porte legitimado e leis ineficazes

No Brasil Imperial, o porte de armas era visto por muitos como um direito essencial, sobretudo diante da insegurança urbana e rural. Mesmo após leis como a de 1831, que criminalizava o porte sem autorização, a aplicação era precária e raramente respeitada. Parlamentares e figuras públicas frequentemente declaravam portar armas em espaços públicos, como teatros e praças.

A cultura armamentista estava profundamente arraigada, funcionando como símbolo de autonomia e mecanismo de justiça privada — especialmente em uma sociedade marcada por desigualdade, lentidão judicial e insegurança.

República, revoltas civis e manutenção da prática armada

Com a chegada da República, o panorama não mudou de forma substancial. Revoltas como Canudos e Contestado revelaram a força de grupos civis armados em confrontos diretos com o Exército, desafiando a autoridade do Estado. Tentativas de restrição, como a proposta do então presidente Arthur Bernardes em 1925, fracassaram diante da resistência cultural à ideia de desarmamento.

Durante a Era Vargas, houve uma tentativa de enfraquecer o poder das oligarquias armadas. Ainda assim, episódios como o atentado contra Carlos Lacerda, em 1954, e a trajetória política de figuras como Tenório Cavalcanti mostram que o armamento seguia presente na política e no cotidiano.

A escalada urbana e o endurecimento das regras

Nas décadas de 1980 e 1990, com o crescimento da violência urbana, a proliferação de armas passou a ser vista com mais preocupação. Armas eram vendidas em lojas comuns e, muitas vezes, acabavam desviadas para o crime. Organizações como o Viva Rio denunciaram que boa parte das armas apreendidas em ações policiais vinha do mercado legal.

Essa mobilização levou à criação do Estatuto do Desarmamento, em 2003, que restringiu severamente a posse e o porte de armas, instituiu campanhas de recolhimento e trouxe maior rigidez nos registros e fiscalizações.

A recente reviravolta e nova tentativa de controle

A partir de 2019, o país vivenciou uma série de decretos que flexibilizaram as regras para CACs, ampliaram o número de armas e munições permitidas e reduziram o controle sobre o armazenamento e a circulação de armamentos. Essa mudança foi alvo de debates e ações judiciais, especialmente diante da polarização política em torno da questão.

Em 2023, um novo decreto federal reverteu parte dessa flexibilização, impondo limites mais rígidos, transferindo o controle para a Polícia Federal e proibindo, por exemplo, o porte de trânsito municiado para CACs. O governo atual argumenta que a medida visa coibir abusos e garantir que o uso de armas permaneça dentro de critérios técnicos e legais.

A história do armamento no Brasil é, portanto, marcada por ciclos de liberalidade e contenção, refletindo os conflitos e transformações da própria sociedade, conclui a loja Casa do Pescador e Militar, de Taguatinga (DF).

Para saber mais sobre a história do armamento no Brasil, acesse: 

https://www12.senado.leg.br/noticias/especiais/arquivo-s/armamento-da-populacao-foi-incentivado-na-colonia-e-no-imperio-e-so-virou-preocupacao-nos-anos-1990

https://brasil.elpais.com/brasil/2017/10/25/politica/1508939191_181548.html

Se você se interessou por esse assunto, saiba mais em:

https://casadopescadoremilitar.com.br/publicacao/HISTORIA_E_EVOLUCAO_DAS_ARMAS_DE_FOGO


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